24 de novembro de 2023

Relação de alunos por professor (SEDITA)

LITERATURAS – MANHÃ: 9h-12h

MESA 1 – LITERATURA BRASILEIRA – SALA H-309

Debatedor 1: Prof. Dr. Dau Bastos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Debatedor 2: Profa. Dra. Laíse Bastos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Coordenador: Prof. Dr. Dau Bastos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O despertar no escuro de Lilith e Kehinde: subversão e resistência como estratégias de construção de personagens negrofemininas

Autora: Agda Beatriz de Souza
Orientadora: Anélia Montechiari Pietrani
Área de concentração: Literatura Brasileira

Partindo do lugar “antigo e oculto” da poesia, conforme Lorde (2019), bem como da escrevivência de Evaristo (2020) — termos-chave para a compreensão do potencial criativo da prática literária de mulheres negras orientada pela ancestralidade —, intento visitar as movimentações político-sócio-literárias de mulheres negras no contexto do Brasil e dos Estados Unidos, buscando por diferenças e similaridades. Para tanto, sinalizo a existência de uma consciência da mulher negra, a formação de um “pensamento feminista negro” firmado por Gonzalez (2020) e Collins (2016), em um diálogo entre dois pontos do Atlântico, e sua relação com as literaturas negrofemininas. Portanto, pretendo investigar como a autorrepresentação, pensada por Evaristo (2005), e a autodefinição e autoavaliação concebidas por Collins (2019) — estratégias contempladas pelo pensamento feminista negro e pelo projeto político literário que se orienta na escrevivência — são utilizadas nos discursos e nas narrativas de ativistas, estudiosas e escritoras negras brasileiras e estadunidenses como ferramentas de reivindicação e resistência, pensando de que forma subvertem e reinterpretam imagens pré-estabelecidas para mulheres negras. Para tanto, darei enfoque especial às protagonistas Lilith e Kehinde, respectivamente, dos romances Despertar, de Octavia Butler, e Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, sinalizando as estratégias narrativas utilizadas para sua construção: o lugar escuro de que partem, a reapropriação de mitos e de narrativas do feminino, as trajetórias diaspóricas transgressoras, destacando sempre a busca pela identidade, a ressignificação do passado e a reescrita do futuro.

Palavras-chave: Octavia Butler; Ana Maria Gonçalves, construção de personagens negrofemininas.

Medo e horror em Os sertões (1902), de Euclides da Cunha

Autor: Hélder Brinate Castro
Orientadora: Anélia Montechiari Pietrani
Área de concentração: Literatura Brasileira

Os sertões (1902), obra-prima de Euclides da Cunha, mais que promover uma análise literária da Guerra de Canudos, inscreve-a na História como verdadeiro genocídio que foi e explora todo seu potencial fóbico e horrífico de maneira a perturbar cognoscível e emocionalmente seus leitores. A obra transgride os limites dos discursos jornalístico, historiográfico e sociológico para se erguer como literatura e, por isso, ser capaz de comunicar – e denunciar – o desespero, a dor, o horror e o medo dos envolvidos na batalha. O narrador euclidiano, embora seja guiado por uma aspiração cientificista, não fica à distância, observando o massacre a partir de uma lente neutra, objetiva e fria. Diante da dor, dos corpos decepados, destripados, empalados e incinerados, a pretensão científica de um narrador cartesiano não se sustenta e cede espaço a um narrador que se acopla aos diferentes atores da tragédia de Belo Monte e com eles a sofre. Euclides da Cunha, ao descrever e narrar os quadros do conflito bélico, expressa, assim, o horror experienciado tanto pelos combatentes republicanos quanto pelos canudenses, promovendo, sobretudo, a gênese de efeitos estéticos negativos, como o horror e o medo artísticos. Dessa maneira, a partir das postulações de Carroll (1999), Hills (2003), Knight e Mcknight (2003), Nickel (2010) e Russell (1998) sobre o horror artístico, objetivamos investigar como o narrador euclidiano, ao encenar o drama de Canudos, utiliza-se largamente de técnicas literárias que se estabeleceram como modos de representar e exprimir aspectos negativos e sombrios da existência humana.

Palavras-chave: medo artístico; horror artístico; Os sertões.

O tempo e a ruína na obra de Ana Martins Marques

Autor: Philipe Barcellos Barros
Orientador: Eucanaã Ferraz
Área de concentração: Literatura Brasileira

No cenário de poetas brasileiros contemporâneos, a obra de Ana Martins Marques se destaca pela criatividade, pela maneira de abordar algumas temáticas, como a casa, a viagem, a metalinguagem, e pela força transmitida por meio das imagens contidas nos poemas. Essa construção imagética é baseada em alguns processos – como a comparação, frequentemente usada para definir algo, ou estabelecer relações metafóricas – e em alguns elementos, como o tempo e a sua passagem, que talvez seja o mais importante, mesmo não sendo tão recorrente. A presença do tempo na imagem tem diversas consequências, a primeira é possibilitar ao leitor o contato com a temporalidade em que a imagem foi produzida, o que permite a transmissão de emoções, memórias e sensações pertencentes a essa temporalidade. Já a última e inevitável consequência é a ruína, que surge a partir da passagem do tempo e é caracterizada, principalmente, pela fragmentação e por proporcionar uma súbita percepção de que todos os empreendimentos humanos tem fim. São vários os poemas que buscam retratar a inexorabilidade do tempo e da ruína através de imagens que descrevem os fragmentos, alguns deles contém um tom profético, proveniente de um eu lírico que conhece esse inevitável fim e alerta o leitor; outros possuem tom reflexivo, vindo de um eu lírico que observa a ruína e tenta entender a mensagem que ela transmite. Para entender esses mecanismos de criação imagética e como a representação de ruínas se dá pelo tempo e como afeta o eu lírico e o leitor, conto com os apontamentos de Georges Didi-Huberman (2018), Sophie Lacroix (2007), Georg Simmel (2019), James Hillman (1993), Tim Ingold (2015), Henri Bergson (1972). Por fim, ao entender esses conceitos, é possível explorar, na obra da autora, quais processos de criação imagética se baseiam ou se relacionam com o tempo e com a ruína, como participam das temáticas recorrentes da obra, quais percepções súbitas revelam e como se dá a relação entre poesia e ruína.

Palavras-chave: tempo; ruína; imagem.

Escrever como se pinta, pintar como se escreve: Clarice Lispector e a busca da matéria

Autora: Gabriele Costa Viana
Orientadora: Maria Lucia Guimarães de Faria
Área de concentração: Literatura Brasileira

A escrita não era a única paixão de Clarice Lispector. A pintura ocupou um importante espaço na vida da autora, principalmente a partir da década de 1970. Lispector muitas vezes questionou-se sobre o escrever, alegando que sua verdadeira vocação era pintar: “Quem sabe escrevo por não saber pintar?” (LISPECTOR, apud SOUSA, 2012, p. 374). O fascínio pelas artes visuais manifestou-se em personagens da literatura lispectoriana, como a artista de Um sopro de vida, a escultora de A paixão segundo G.H e, principalmente, a pintora de Água viva. Lispector incansavelmente trabalhou a linguagem em sua escrita, pensando-a como matéria prima e angustiando-se com os seus limites e impossibilidades. Sempre esteve à procura do não-dito, do atrás do pensamento, do “it”. Não conseguiu representar em palavras essa matéria ou “coisa estranha” que esteve presente em toda a sua escrita, seja nos romances, contos ou crônicas. Dois anos antes de sua morte, Clarice renova sua visão sobre a linguagem e começa a ver a literatura a partir da pintura. Nasce, portanto, um novo método para explorar e tentar dizer o indizível. A pintura será uma nova forma de tocar essa matéria e tentar deixá-la se exprimir por conta própria. Segundo Carlos Mendes de Sousa (2013), a literatura lispectoriana expõe a tensão do inacabado, da incompletude do ser. Ela sempre está em busca de apreender a matéria. Este estudo pretende compreender a busca pelo “it” em alguns de seus escritos, mas principalmente em suas pinturas, tomando muitas de suas crônicas como uma espécie de laboratório de reflexão, produção e ensaio de suas aspirações criadoras. Pretendemos mostrar que Lispector explorou a experiência da pintura como método de busca pelo que a palavra não pode/pôde expressar. Os atos de pintar e escrever por vezes mesclam-se e se fundem, compartilhando temas, procedimentos, motivações e inspirações.

Palavras-chaves: Literatura; pintura; “It”.

Escrever como se pinta, pintar como se escreve: Clarice Lispector e a busca da matéria

Autora: Gabriele Costa Viana
Orientadora: Maria Lucia Guimarães de Faria
Área de concentração: Literatura Brasileira

A escrita não era a única paixão de Clarice Lispector. A pintura ocupou um importante espaço na vida da autora, principalmente a partir da década de 1970. Lispector muitas vezes questionou-se sobre o escrever, alegando que sua verdadeira vocação era pintar: “Quem sabe escrevo por não saber pintar?” (LISPECTOR, apud SOUSA, 2012, p. 374). O fascínio pelas artes visuais manifestou-se em personagens da literatura lispectoriana, como a artista de Um sopro de vida, a escultora de A paixão segundo G.H e, principalmente, a pintora de Água viva. Lispector incansavelmente trabalhou a linguagem em sua escrita, pensando-a como matéria prima e angustiando-se com os seus limites e impossibilidades. Sempre esteve à procura do não-dito, do atrás do pensamento, do “it”. Não conseguiu representar em palavras essa matéria ou “coisa estranha” que esteve presente em toda a sua escrita, seja nos romances, contos ou crônicas. Dois anos antes de sua morte, Clarice renova sua visão sobre a linguagem e começa a ver a literatura a partir da pintura. Nasce, portanto, um novo método para explorar e tentar dizer o indizível. A pintura será uma nova forma de tocar essa matéria e tentar deixá-la se exprimir por conta própria. Segundo Carlos Mendes de Sousa (2013), a literatura lispectoriana expõe a tensão do inacabado, da incompletude do ser. Ela sempre está em busca de apreender a matéria. Este estudo pretende compreender a busca pelo “it” em alguns de seus escritos, mas principalmente em suas pinturas, tomando muitas de suas crônicas como uma espécie de laboratório de reflexão, produção e ensaio de suas aspirações criadoras. Pretendemos mostrar que Lispector explorou a experiência da pintura como método de busca pelo que a palavra não pode/pôde expressar. Os atos de pintar e escrever por vezes mesclam-se e se fundem, compartilhando temas, procedimentos, motivações e inspirações.

Palavras-chaves: Literatura; pintura; “It”.

MESA 2 – LITERATURAS PORTUGUESA E AFRICANAS – SALA H-311

Debatedor 1: Prof. Dr. Flávio Silva Corrêa de Mello (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Debatedor 2: Prof. Dr. João Victor Sanches da Matta Machado (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Coordenador: Lucas Laurentino (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Violência e morte na escrita literária de Aldino Muianga

Autor: Filipe Umbelino Bulhões
Orientadoras: Vanessa Ribeiro Teixeira/ Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

No âmbito dos estudos literários dos países africanos de língua portuguesa é possível encontrar solo fértil ao tentar compreender as relações existentes entre os indivíduos que coabitam aqueles territórios. Nesse sentido, tornam-se necessárias algumas reflexões um pouco mais sensíveis às questões que dizem respeito às conexões existentes entre esses seres e o próprio espaço onde habitam. Partindo dessa necessidade, o presente estudo visa analisar a escrita literária de Aldino Muianga em seu livro A noiva de Kebera. Trata-se de uma coletânea de contos, publicada pela primeira vez em 1992, por meio da qual o autor passeia por diversas possibilidades de usos da linguagem. Dentre elas, é significativo destacar dois elementos que operam em conjunto: violência e morte, e tentar compreender de que maneira eles atuam nas narrativas. Entrelaçados, esses elementos vão percorrer toda obra e, dessa forma, podem funcionar como uma espécie de rota alternativa para que se tente compreender as relações entre o espaço e os seres que o modificam. Tendo isso em mente, é de grande relevância para os estudos das literaturas africanas tentar observar, a partir dos contos presentes em A noiva de Kebera, sobre uma perspectiva que enquadre a violência e a morte como fios articuladores das narrativas, como esses elementos se abrem e se desdobram em caminhos ou possibilidades de compreensão dos contextos históricos, políticos e culturais dos territórios em que essas narrativas foram ambientadas.
Palavras-chave: Moçambique; literatura; contos.

O plano do outro. A terceira metade, de Ruy Duarte de Carvalho

Autor: José Antonio Gonçalves Neto Junior
Orientadora: Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

Nosso objetivo é refletir sobre um percurso poético, em A terceira metade (2009), último romance do autor, poeta e antropólogo angolano Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010). Trata-se de um périplo pela África austral que conduzirá o protagonista e ancião kwisi Jonas Trindade e o autor implícito à elaboração de uma crítica ao humanismo ocidental. Assim, Ruy Duarte e seus personagens, em viagem, mas também em convívio com os pastores kuvale, povo insular no deserto do Namibe, compreendem com a alteridade, que habita essa região de fronteira entre Angola e a Namíbia, a urgente necessidade de haver um questionamento dos imperativos humanistas: o colonialismo, as guerras e as crises da pós-modernidade. Nossa hipótese é que o relato de Trindade, auxiliado pela oralidade da mitopoética de Koumen e de Nambalisita, permite-nos ouvir a diversidade que subjaz ao plano do outro. Com efeito, A terceira metade pode ser lida como uma reverberação do neoanimismo, uma nova forma de pensamento e afetividade, afim a uma construção de apelo coletivo e comunitário. Pesquisa de natureza qualitativa, a sua metodologia envolverá uma análise do romance, a partir do levantamento de figuras-chave de linguagem, em diálogo, sempre, com textos críticos e teóricos de Ruy Duarte de Carvalho, especialmente “Da Angola diversa” (Carvalho, 2011b), “Decálogo neoanimista” (Carvalho, 2010a) e “Tempo de ouvir o outro” (Carvalho, 2011c), bem como com os de Bhabha (1998), Brugioni (2019), Chaves e Can (2016), Fischgold e Pinheiro (2018), Fonseca (2002), Glissant (2021), Leite (1998), Mbembe (2001), Miceli (2011), Moraes (2023), Mudimbe (2013), Muraro (2016), Padilha (1997), Said (2011), Santos e Meneses (2009), Secco (2021), entre outros.

Palavras-chave: Angola; Ruy Duarte de Carvalho; alteridade.

 

Lavra: fragmentos de uma poética do tempo

Autora: Julia Goulart Silva
Orientadora: Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco
Coorientadora: Ana Paula Tavares
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

Esta comunicação apresentará, de forma resumida, os contornos finais do texto da tese de doutoramento. O projeto é intitulado “Lavra: fragmentos de uma poética do tempo”. Busco analisar a representação poética do tempo na obra Lavra, do autor angolano Ruy Duarte de Carvalho. Por meio da leitura crítica dos poemas e da técnica do close reading, debruço-me sobre diferentes ideias temporais, sejam no âmbito filosófico, antropológico, poético, histórico ou espacial. Além disso, estabeleço o diálogo com as imagens presentes na obra e com o material recolhido durante a pesquisa no espólio do autor, realizada na Fundação Mário Soares de Lisboa. O tempo, em sua forma espiralar, atravessa a palavra poética. E faz desta um chão em lavra disposto a tornar a cena angolana fértil de novas epistemologias críticas e formas de pensar a História e as suas dinâmicas. O texto dialoga com alguns referenciais teóricos importantes, como o conceito de cronotopo de Bakhtin (1975), a ideia de tempo espiralar de Leda Martins (2021) e os escritos sobre poesia de Amadou Hampâté Bâ (2010), de Jorge Luis Borges (2000) e de Octavio Paz (1956) e (1974). Diálogos e ideias que refletem uma linguagem poética que se temporaliza materialmente e epistemologicamente, a fim de estabelecer um olhar sobre a plural sociedade angolana, formada por diversas etnias e culturas.

Palavras-chave: Angola; poesia e tempo.

Visita à biblioteca de Alexandra Alpha

Autor: Lucas Pereira Pessin
Orientadora: Luci Ruas Pereira
Coorientador: Marlon Augusto Barbosa
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

O primeiro “axioma” de “A biblioteca de Babel”, do argentino Jorge Luís Borges, publicado na antologia Ficções (1944), apresenta a Biblioteca como um centro interminável e infinito, capaz de existir ab aeterno e, portanto, de resistir à força do tempo. Essa biblioteca mítica inclui em seu acervo todo o conhecimento e toda a produção humana existente no mundo nas mais diferentes línguas, permitindo-lhe ser resultado da “fusão prodigiosa” que vê a “confusão” das línguas como um castigo divino já superado. Partindo dessas reflexões, atravessamos o tempo e o Atlântico e ficamos diante de Alexandra Alpha (1987), último romance de José Cardoso Pires, procurando desempacotar a biblioteca pessoal da personagem, que não se limita a livros, mas também comporta um sólido acervo de gravuras, de fotografias e até mesmo a coleção dos diferentes gêneros musicais. Contidos nos chamados “papéis de Alexandra Alpha” encaixotados num cartório em Beja, uma espécie de “arquivos do eu” da personagem, a biblioteca lá disposta reitera o caráter intertextual da obra cardosiana com os seus conterrâneos e com autores de outras nacionalidades. Com efeito, os papéis como arquivos de Alexandra pressupõem uma dimensão histórica, que atravessa todo o romance. Revelam, portanto, uma grande preocupação com os rumos do país e com a busca por sua identidade. Neste trabalho, como nos diz Roland Barthes, o prazer do texto se encontra na Babel feliz erguida no romance; a necessidade de tirarmos os arquivos de Alexandra das caixas reside num dever de memória tão enfatizado pelo escritor para que nunca se esqueça, principalmente tratando-se de um tempo pós-revolucionário em que a euforia abranda e a festa acaba, a lembrar de Carlos Drummond de Andrade: e agora, José?

Palavras-chave: Biblioteca; José Cardoso Pires; papéis.

 

Entre Brasil e Portugal: o hibridismo cultural em Matilde Campilho

Autora: Carolina Dias Huguenin
Orientadora: Sofia de Sousa Silva
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

Esta pesquisa ainda em andamento é dividida em três partes: a primeira enfatiza a questão do hibridismo cultural na obra de Matilde Campilho (com foco na linguagem e nas imagens poéticas híbridas); a segunda investiga a relação da poeta e de seus poemas com a tradição literária; por fim, a última parte busca entender como ocorreu a recepção da obra de Campilho em terras brasileiras e portuguesas e como o hibridismo cultural pode ter afetado ou não na ampla leitura e divulgação da poeta. Devido ao tempo de apresentação, iremos nos concentrar na primeira parte da pesquisa – a escrita híbrida – e usaremos como corpus o livro Jóquei, em que grande parte de seus escritos foram produzidos durante o período que Campilho morou no Brasil (2010-2013), além de seus videopoemas publicados no Youtube na mesma temporada. A condição de imigrante é um fator decisivo para gerar o hibridismo cultural. Sobre o processo de migração portuguesa no século passado, Eduardo Lourenço diz o seguinte: “[…] O emigrante prolonga, sob uma outra forma, a nossa presença colonizadora. Encontra, nesses locais, possibilidades que a Europa não lhe fornece e permanece numa imensa casa onde se fala com doçura a sua própria língua. (Lourenço, 1999, p. 51)”. A questão linguística é aqui de suma importância, pois, apesar das diferenças entre o português europeu e o brasileiro, é mais confortável para Campilho morar em um país que tenha como língua oficial o português, ao invés de morar em outra nação com o idioma distinto. A autora, em seu primeiro livro, evidencia sua experiência de poeta em trânsito, do indivíduo nômade. Com isso, as fronteiras entre os países são destruídas, fica difícil definir onde começa Portugal e termina o Brasil, como será visto.

Palavras-chave: Matilde Campilho; hibridismo cultural; poesia contemporânea.

MESA 3 – LITERATURAS PORTUGUESA E AFRICANAS – SALA H-313

Debatedor 1: Prof. Dr. Rodrigo de Carvalho Xavier (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Debatedor 2: Prof. Dr. Paulo Ricardo Braz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Coordenador: Prof. Dr. Paulo Ricardo Braz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

 

“Palavras para o velho abacateiro”, de Ondjaki: um efeito ruína

Autor: Christopher Pereira Jones de Carvalho
Orientadora: Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

“Palavras para o velho abacateiro” apresenta-se como uma microprojeção do projeto poético-existencial de Os da minha rua. Pretendemos, portanto, interpretar esse conto, levando em conta sua capacidade de reproduzir tal projeto poético, no qual a rua se constrói como corpo do feminino. Esta estória parece revelar na sua estrutura, a estrutura de toda obra. Pretendemos contemplar ao mesmo tempo a singularidade da estória e a sua pertinência em relação ao todo da obra. Em Os da minha rua, todas as histórias se articulam no movimento de re-sentir as memórias como a reconstrução daquilo que já foi e não é mais. É nossa intenção mostrar tanto o tom particular do conto “Palavras para o velho abacateiro”, como seu desempenho próprio e específico, a sua inserção numa orquestração maior de sentidos e valores que a inclui e transcende dentro do livro. Assim, no microcosmo da estória, nos apropriaremos das relações de ruína e memória, do ritmo encantatório das palavras, das imagens da infância, do conteúdo sensível e inteligível. É partindo de tais considerações que vamos observar a rua do espaço afetivo do autor como um corpo feminino. Em nossa abordagem do conto, nos apoiaremos na noção de cidade proposta por Tania Macedo (2008), na obra As cidades invisíveis, de Italo Calvino (1972), e nas reflexões de Didi-Huberman sobre o efeito ruína (2017).

Palavras-Chave: Ondjaki; ruína; corpo feminino.

O Afropolitanismo santomense para construção de um lugar

Autora: Emanuelle Menezes V. dos Santos
Orientadora: Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

O trabalho proposto busca traçar um percurso histórico das ilhas de São Tomé e Príncipe, estabelecendo sua construção enquanto lugar. Para tal, foi levado em consideração a fundamentação de Marc Augé (2001) em torno de não lugares e posto em prova a aplicabilidade de sua teoria ao país insular. Ademais, propus o conceito de Afropolitanismo de Achille Mbembe (2013) como ponto centralizante dessa construção identitária. Aqui, foi realizado um recorte ao arquipélago São Tomé e Príncipe, devido aos meus estudos em torno da poeta santomense Conceição Lima, no Mestrado em Literaturas Portuguesa e Africanas na UFRJ. Lima é nascida em 1961, antes da libertação de seu próprio país, mas é considerada uma poeta pós-colonial. Ademais, as questões de pertencimento e construções identitárias são temáticas centralizantes ao estudo proposto – assim como nas obras engajadas da poeta –, uma vez que o objetivo é discutir, justamente, como tudo isso foi concebido naquele espaço tão culturalmente diverso. A relevância desse estudo é precisamente o diálogo em torno do pertencimento e o Afropolitanismo num espaço humano que não precedeu o escravagismo. Pensar e repensar a criação de uma nação a partir dessa história é interessante para compreender as construções e configurações atuais deste país africano insular. Além disso, ao discutir países africanos, não é raro que o debate sintetize o continente a algo único, ignorando o fato de que existem países ali, e suas ilhas são ainda mais negligenciadas, daí a importância do recorte de São Tomé e Príncipe.

Palavras-chave: São Tomé e Príncipe; Afropolitanismo; Conceição Lima.

A silenciada em Mayombe

Autora: Lívia Ramires Baptista
Orientadora: Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva
Área de concentração: Literaturas Portuguesa e Africanas

Este trabalho se propõe a estudar a personagem Ondina, da obra Mayombe, publicada em 1980. Escrita no período de 1970 e 1971, em que Pepetela participou como guerrilheiro no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a obra narra a vida dos guerrilheiros no interior da floresta tropical Mayombe, em confronto não somente com as tropas portuguesas, mas também com as suas próprias diferenças culturais e sociais. A narrativa transcorre em terceira pessoa, por meio de discurso indireto livre, mas também por recurso polifônico, projetando a individualidade dos guerrilheiros através da voz. Contudo, a personagem feminina Ondina não dispõe de tal recurso, tendo a sua voz oculta pelo autor, embora seja uma personagem de destaque no texto. Tal silenciamento feminino nos leva a refletir sobre o cerceamento da sua liberdade, e sobre como a imagem da mulher se construiu naquele contexto sócio-histórico. Em nossa abordagem da personagem, nos apoiaremos nas reflexões feministas de Bell hooks, especificamente nas obras: tudo sobre o amor: Novas perspectivas (2000) e Teoria Feminista da margem ao centro (2019); na reflexão de Margareth Rago, com a obra A aventura de contar-se feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade (2013), e na contribuição de Michelle Perrot, na obra As mulheres ou os silêncios da história (2005).

Palavras-chave: Mayombe; Ondina; silenciamento.

LÍNGUA PORTUGUESA – TARDE: 14h-17h

MESA 4 – LÍNGUA PORTUGUESA – SALA H-309

Debatedor 1: Profa. Dra. Aline Silvestre (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Debatedor 2: Profa. Dra. Cláudia Cunha (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Coordenador: Profa. Dra. Aline Silvestre (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

 

A entoação na fala autista: um estudo preliminar de dois casos

Autor: Leandro Lisboa Lopes da Silva
Orientadora: Carolina Serra
Área de concentração: Língua Portuguesa

Este trabalho tem como objetivo descrever o comportamento acústico-entoacional da fala de autistas adultos em frases assertivas e interrogativas. Segundo algumas pesquisas dedicadas à análise prosódica da fala de autistas em outras línguas, foram documentadas a acentuação excessiva ou inadequada, a variação melódica exagerada ou monótona e dificuldades na produção e percepção de funções gramaticais. Por conta da divergência de resultados e da escassez de material científico publicado sobre a análise prosódica da fala de autistas em Português Brasileiro (PB), essa pesquisa, utilizando o aporte teórico da Fonologia Prosódica (Nespor e Vogel, 1986) e da Fonologia Entoacional Autossegmental e Métrica (Pierrehumbert, 1980), visa a responder duas perguntas principais: i) como é o comportamento prosódico da fala autista no PB?; e se ii) há traços fonéticos ou fonológicos que a distingue da fala neurotípica. Para isso, utilizamos como metodologia de recolhimento de dados o Discourse Completion Task (DCT), adaptado para o PB, do projeto Interactive Atlas of the Prosody of Portuguese (InAPoP), que consiste em um questionário de ordem semântico-pragmática com frases elicitadas de diversas modalidades. Mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), os contextos do DCT foram gravados no Laboratório de Fonética Acústica da UFRJ e produzidos por dois informantes autistas do grupo experimental (GE), e dois informantes neurotípicos do grupo controle (GC), entre 24 e 28 anos, do sexo masculino, residentes no estado do Rio de Janeiro, em que foram analisadas as frases assertivas e interrogativas com o auxílio do PRAAT. Esperamos, com essa pesquisa em desenvolvimento, encontrar diferenças acústicas na fala dos participantes do GE em comparação com o GC, principalmente no que diz respeito à gama de F0 e duração silábica.

Palavras-chave: Autismo; entoação; prosódia.

A dinâmica entre o segmento e o suprassegmento: o apagamento variável do rótico em fronteira de sintagma entoacional

Autor: Caio Korol Gonçalves da Silva
Orientadora: Carolina Serra
Área de concentração: Língua Portuguesa

Este estudo visa a investigar a relação entre o apagamento variável do rótico em final de palavra, em não-verbos (mulheR ~ mulhe[Ø]), e a fronteira de sintagma entoacional (IP). Partindo da hipótese de que as fronteiras mais baixas na hierarquia prosódica, isto é, a de palavra prosódica (Pw) e a de sintagma fonológico (PhP), favorecem a implementação do zero fonético e de que a mais alta, a de IP, inibe o apagamento do R, desejamos averiguar a dinâmica entre a queda do segmento e a incidência de marcas entoacionais e acústicas do contorno final de IP, quais sejam, a presença de modulação melódica (acento tonal e tom de fronteira) na Pw mais à direita do constituinte e, também, de pausa silenciosa. Para isso, norteiam esta análise os aportes teóricos da Fonologia Prosódica (Nespor & Vogel, 1986) e da Fonologia Entoacional Autossegmental e Métrica (Pierrehumbert, 1980). São analisados trechos de fala semiespontânea de entrevistas do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (Comitê Nacional do ALiB, 2001) de informantes de ambos os sexos, oriundos do Chuí, no Rio Grande do Sul, e pertencentes a duas faixas etárias (18 a 30 anos e 50 a 64 anos), com educação fundamental e monolíngues do português. No total, foram recolhidos 113 ocorrências do rótico em contexto de IP, sendo 47 de IPs finais e 66 de IPs não-finais. A análise acústico-entoacional dos enunciados foi feita com o auxílio do programa de análise de fala Praat. Como se sabe, o processo de cancelamento do rótico em coda final se encontra menos avançado no Sul do Brasil, sobretudo em vocábulos não verbais. Portanto, focalizamos essa categoria na variedade chuiense por fornecer o contexto ideal para a testagem acerca da influência da melodia de fala sobre o apagamento variável do rótico em final de palavra.
Palavras-chave: Rótico; sintagma entoacional; ALiB.

Construções X-metro: novas formações do português brasileiro

Autora: Fabiana Gervazoni Barbosa Rocha
Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Área de concentração: Língua Portuguesa

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar as construções X-metro (“torcedômetro”, “olhômetro”, “tetrometrômetro”, “covidômetro”) no português brasileiro e que têm circulado nas mídias sociais (Instagram e Twitter) ao longo do ano de 2022. Como aporte teórico, adotamos a Linguística Funcional Centrada no Uso, uma teoria que considera a função como elemento essencial à linguagem, e a Morfologia construcional, que concebe essas novas estruturas como oriundas de um padrão construcional bem consolidado na língua. Levando-se em consideração que a tradição gramatical não fornece um estudo satisfatório e aprofundado do formativo em questão, mostramos que as construções inovadoras não fazem parte do contexto científico ao qual o formativo é originalmente atrelado (cf. GONÇALVES, 2011). Desse modo, nosso intuito é (a) realizar uma análise mais detalhada sobre as transformações pelas quais o formativo passou no português brasileiro contemporâneo; (b) investigar a produtividade do mesmo no atual momento da língua a partir de um modelo que possibilite uma descrição mais adequada dessas construções morfológicas e (c) entender qual é o objetivo e a motivação dos indivíduos em utilizar tais construções inovadoras através de um corpus que engloba os dados coletados empiricamente no ambiente eletrônico na modalidade escrita. Com isso, buscamos reforçar que o léxico está sempre em processo de mudança e de reconstrução.

Palavras-chave: Formações X-metro; Morfologia Construcional; Português Brasileiro.

O emprego do pronome clítico na redação do ENEM: favorecendo a norma culta em detrimento da artificialidade da norma padrão

Autora: Luísa Martinis Sombra
Orientadora: Danielle Kely Gomes
Área de concentração: Língua Portuguesa

A pesquisa investiga o uso dos pronomes oblíquos átonos em posições proclíticas e enclíticas em LVS e LVC no contexto de alta monitoração linguística da redação do ENEM – já considerado nesta análise como gênero textual, a partir dos estudos de Bakhtin (1979[1997]) e Marcuschi (2008). Utilizam-se, para tanto, quatro compêndios gramaticais tradicionais e, diante de um quadro de inconformidade entre as suas diretrizes, determinam-se as regras mais estritas desse conjunto para servir de base de observação do fenômeno selecionado, buscando identificar se a normatividade é seguida nessas produções textuais de fato ou se a norma culta já desponta de forma natural, como sugerem Vieira; Freire (2014, 2023). É explorada também a variação dentro da própria norma culta, a definição do segmento culto (Bortoni-Ricardo, 2004) e as justificativas de correção das docentes/corretoras das amostras. Além disso, faz-se um estudo diacrônico das normas do português, tanto no contexto lusitano do século XIX (tendência à ênclise) quanto no brasileiro (tendência à próclise), ambas originárias do Português Clássico, ainda que tenham se desenvolvido como gramáticas independentes e inovadoras – Faraco (2008, 2017), Barbosa (2007) e Martins (2008). Como linha teórica, a Teoria da Variação e Mudança (Weinreich; Labov; Hergoz, 2006 [1968]) e a Competição de Gramáticas (Kroch, 1989) são utilizadas para a compreensão da variação dos clíticos, assim como suas motivações. Pontua-se que, mesmo em contextos altamente formais e avaliados por profissionais da Língua Portuguesa, as preferências linguísticas do PB contemporâneo diferem da artificialidade da norma padrão e devem ser flexibilizadas.

Palavras-chave: Norma culta; ENEM; clíticos.

MESA 5 – LÍNGUA PORTUGUESA – SALA H-311

Debatedor 1: Prof. Dr. Thiago Laurentino (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Debatedor 2: Profa. Dra. Beatriz Protti Christino (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Coordenador: Lucas de Souza (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Quantidade nominal: uma ponte entre a pesquisa e a educação básica

Autora: Ana Beatriz Faltz Pereira Amaral
Orientadora: Ana Paula Quadros Gomes
Área de concentração: Língua Portuguesa

Este é um trabalho de Semântica Formal, com o objetivo de oferecer subsídios para a educação básica, no que se refere ao ensino de Português. Ele tematiza o fenômeno do singular e do plural em nominais, que é ensinado assim: plural – dois ou mais –, singular – um –. Isso, no entanto, é insuficiente para tratar da quantidade nominal, muito mais rica, e nem está de acordo com os fatos, pois, segundo Quadros Gomes e Sanchez Mendes (2018), Quadros Gomes (2020), Martins e Müller (2007), Chierchia (1998) etc., há nomes que estão morfologicamente no singular podendo significar mais do que um (ex. “João comprou fruta”). Há fatores além da presença ou não de s que influenciam na interpretação, como (i) a distinção contável-massivo, (LINK, 1983), (CHIERCHIA 1998, 2010) (alguns nomes massivos não admitem pluralização (ex.: “*Vi muitas gentes na praia hoje”); (ii) o tipo de sentença (episódica ou genérica) (ex. “Tem um gato miando no portão”; “Um gato mia”), e (iii) se o argumento nominal é um nome nu ou um sintagma de determinante (ex. “O meu gato me arranha”; “Odeio gato”). Além de indivíduos, pode-se contar tipos (“vinhos tinto e branco”) e episódios (“fui a dois casamentos”). Além da leitura de cardinalidade, há a de volume/extensão (“as areias de Copacabana”), e também as que emergem do singular intensificado, que pode indicar aumento em volume (mais pó), grau (mais atenção) e número (ex. “Tem muito turista na cidade”) (Quadros Gomes, 2020). O objetivo é levar estas descobertas da Semântica Formal para o ensino de Português nas escolas por meio de um trabalho dividido em etapas: a primeira com a tradução do conhecimento linguístico, tornando-o acessível a não-especialistas, como os professores, e a segunda com propostas de práticas de atividades sobre a quantidade nominal. Como resultado, serviremos de base e de incentivo para a criação de materiais que conectem pesquisa à educação básica.

Palavras-chave: quantidade nominal; ensino de Português; Semântica Formal.

Gramática e texto em livros didáticos de língua portuguesa e italiana

Autora: Julia Pinheiro Soares da Silva
Orientadora: Leonor Werneck dos Santos
Área de concentração: Língua Portuguesa

Esta pesquisa busca realizar um estudo comparativo entre o ensino de língua materna na Itália e no Brasil. No Brasil, a partir da criação de documentos norteadores como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a indicação é de que o texto seja o novo foco para ensino-aprendizagem e não mais a gramática. Já na Itália, apesar de haver as Indicazioni Nazionali, há uma descentralização curricular devido à autonomia escolar que o Estado garante. Analisaremos comparativamente quatro livros didáticos de volume único utilizados no Ensino Médio, nos dois países, para responder às nossas questões de pesquisa, que abordam o conceito de língua nos livros didáticos, a reflexão sobre estudos de texto, gramática e análise linguística e a influência dos documentos norteadores nesses materiais. Nossa hipótese é que os livros didáticos, influenciados pelos documentos regulamentadores nacionais, sofrem impacto em sua construção e apresentação no que tange ao conceito de língua e ao tratamento dados aos estudos sobre texto, gramática e análise linguística. Para a elaboração da pesquisa, partiremos de pressupostos teóricos da Linguística de Texto e de autores que discutem o ensino de língua materna, como Possenti (1996, 2000), Geraldi (1997 [1984]; 2000), Bagno (1999), Antunes (2002, 2003, 2007, 2009, 2018), Dolz; Schneuwly (2004), Mendonça (2005, 2006), Koch (2015[2004]), dentre outros.

Palavras-chave: texto; gramática; análise linguística.

Encapsulamentos e anáforas diretas na elaboração de resenhas

Autora: Michele Aparecida Ferreira Moreira
Orientadora: Leonor dos Santos Werneck
Coorientadora: Thalita Cristina Souza Cruz (UNIRIO)
Área de concentração: Língua Portuguesa

A compreensão do que é texto vem sendo modificada nas últimas décadas, sobretudo devido aos esforços empreendidos no interior da Linguística de Texto. Diante disso, o texto deixa de ser compreendido apenas em seus aspectos estruturais e passa a ser entendido também como lugar de interação, um processo sociocognitivo e interacional para o qual convergem intencionalidades, pontos de vista e informações, construídas a partir dos conhecimentos partilhados entre os participantes do ato comunicativo. Neste sentido, para ser coerente, o texto se constitui a partir do uso de estratégias que colaboram para a produção de sentidos, dentre eles, a referenciação que se configura como um importante por meio do qual se chega à intencionalidade. Partindo desta concepção teórica, o objetivo desta pesquisa é analisar como algumas estratégias referenciais, como anáforas diretas e encapsulamentos, são utilizadas para retomar objetos de discurso em textos do gênero resenha. Buscamos discutir de que modo são usadas essas estratégias de referenciação na construção dos objetos de discurso “autor” e “livro” apresentados nas resenhas. Desse modo, observações iniciais têm mostrado que os resenhistas utilizam de forma moderada ou repetitiva as estratégias referenciais. A escolha pelo gênero resenha deve-se ao seu caráter argumentativo – em geral utilizado para avaliação de produções intelectuais e culturais em diversas áreas do conhecimento –, que, por sua natureza e uso, permite que se explore as estratégias de veiculação das ideias e pontos de vista de seus autores. Sendo assim, através da análise dos processos de referenciação existentes nas resenhas analisadas, mostraremos como são utilizadas as estratégias referenciais na construção de sentido dos textos e das estratégias constitutivas argumentativas do gênero resenha na construção dos objetos de discurso.

Palavras-chave: Linguística de Texto; gênero; resenha e referenciação.

O verbo saber em construções de descrença no Português Brasileiro: uma análise socioconstrucionista

Autor: Lucas de Souza
Orientadora: Márcia dos Santos Machado Vieira
Área de concentração: Língua portuguesa

A presente pesquisa possui como enfoque a análise da forma (fonológica, morfossintática) e da função (semântica, pragmática, discursiva e cognitiva) de construções com o verbo SABER em contextos que remitam à desconfiança/descrédito no Português Brasileiro (PB). Para tal, visamos construir uma análise prosódica, a partir de testes com voluntários, de dados licenciados por construções com o verbo em questão, em especial aquelas (i) em que ele assume um papel discursivo que remeta à descrença em contextos conversacionais e (ii) quando ele está acompanhado da partícula ‘aham’, formando a construção “aham, sei”. Esse teste foi feito sob os parâmetros da Teoria Autossegmental e Métrica (AM), na Fonologia Entoacional (Crystal, 1988; Moraes, 1998); e nosso aporte teórico está ancorado nos pressupostos da Linguística Funcional-Cognitiva (Bybee, 2010) e na Gramática de Construções Baseada no Uso (Goldberg 1995, 2006; Traugott e Trousdale, 2013) cujas preocupações estão pautadas em perceber e descrever as diferentes maneiras segundo as quais um falante pode realizar construções gramaticais e como o interlocutor pode processá-las como associadas a um efeito de sentido e outras a um efeito distinto, como por exemplo [AHAM (,) SEI]cognitivo e [AHAM (,) SEI]descrença. Desenvolvido considerando um perfil de descrição construcionista, este trabalho, ainda, em interface com a Sociolinguística, apoia-se na percepção de variáveis linguísticas que possam favorecer o entendimento e a repetição dessas construções no compêndio linguístico dos falantes, o que foi explorado a partir dos corpora e de um outro teste de percepções linguísticas com voluntários, que nos mostrou um fenômeno altamente produtivo, assim como evidenciou como seu pareamento forma-função (Goldberg, 2006; Traugott e Trousdale, 2013; Machado Vieira; Wiedemer, 2019) está consolidado no PB.

Palavras-chave: Polifuncionalidade verbal; Gramática de Construções; Socioconstrucionismo.

Insubordinação em folhetins e romances do século XIX: um olhar em contraste

Autor: Marcelo Rodrigues Affonso Junior
Orientadora: Violeta Virginia Rodrigues
Área de concentração: Língua Portuguesa

Este trabalho debruça-se sobre o fenômeno da insubordinação (Evans, 2007; Evans & Watanabe, 2016) no contexto de dois folhetins reeditados como romances no século XIX: (i) Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado entre 1886 e 1891 pela revista A Estação, editado como romance em 1891; e (ii) Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, veiculado pelo Correio Mercantil de 1852 a 1853 e editado como romance em 1854. Observando as ocorrências no corpus, numa perspectiva funcionalista de articulação de cláusulas (Halliday & Hasan, 1976), temos por objetivo analisar, em primeira instância, os padrões formais em jogo (Rodrigues, 2022) e, mais além, as nuances pragmáticas veiculadas pelas cláusulas insubordinadas, levando em conta o contexto discursivo em que ocorrem. Nesse sentido, pretendemos testar hipóteses que (i) assumem a multidirecionalidade dos padrões formais com relação às informações pragmáticas veiculadas, além de (ii) defenderem não haver relação estrita entre o gênero ou suporte em que se veicula o texto e a ocorrência da insubordinação e, por fim, (iii) entenderem que, no português, uma proposta estanque de ocorrência de cláusulas insubordinadas não parece ser a mais adequada. Estabelecendo o que se entende por insubordinação, dialogamos com propostas que têm, na literatura recente, trazido maneiras diferentes de explicar o processo (Mithun, 2008; Van Linden & Van de Velde, 2014; D’Hertefelt & Verstraete, 2014; Cristofaro, 2016; Heine, Kaltenböck & Kuteva, 2016). Em nossos resultados, em fase final de refinamento, temos constatado que um mesmo padrão formal tende a servir a diferentes nuances pragmáticas. Além disso, o gênero e o suporte em que são veiculados os textos não parecem ser decisivos para a ocorrência da insubordinação. Finalmente, o cotejamento dos dados tem demonstrado que uma visão limítrofe dos casos de insubordinação não parece estar em consonância com a realidade do corpus.

Palavras-chave: insubordinação; articulação de cláusulas; padrões formais.

MESA 6 – LÍNGUA PORTUGUESA – H-313

Debatedor 1: Márcia Andrade Morais Cabral (Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ)

Debatedor 2: Profa. Dra. Lúcia Helena Gouvêa (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Coordenador: Profa. Dra. Lúcia Helena Gouvêa (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Com licença, senhor, poderíamos apresentar uma proposta semiótica para o ensino de leitura dos memes de internet?

Autora: Camila Pinheiro do Nascimento da Silva
Orientadora: Regina Souza Gomes
Ária de concentração: Língua Portuguesa

O componente argumentativo, inerente a todos os textos, é recorrente tema de estudo e investigação das diferentes teorias que se debruçam sobre a análise de textos e discursos. Persuadir implica procedimentos linguísticos que podem (e devem) ser evidenciados aos alunos pelo professor em sala de aula. O estudo da persuasão em Semiótica Greimasiana permite que a concepção de argumentação seja ampliada e que os mecanismos, inscritos no texto, que levam o enunciatário a aceitar o que está sendo comunicado, sejam estudados como organizações discursivas e descritos com metalinguagem precisa. Estudar a argumentação nos memes de internet significa trazer à luz a complexidade de um gênero textual oriundo do fenômeno global de conexão, aclarando suas funções comunicativas e características persuasivas peculiares. No meme “Com licença, senhor”, tomado na pesquisa como exemplo, são estabelecidas relações de manipulação, que privilegiam conexões entre aqueles leitores, ou enunciatários, para quem foram idealizados, em primeira instância. Os apontamentos de Greimás & Courtés (2008), Diana Luz Pessoa de Barros (1990), Denis Bertrand (2003), José Fiorin (2006, 2017), entre outros, ajudarão no estudo dos recursos argumentativos predominantes nos exemplos analisados, como a intertextualidade, os implícitos (pressupostos e subentendidos), a ironia e, por consequência, o humor. Além disso, outros temas, como linguagens sincréticas e linguagens na cibercultura, também serão abordados devido a sua importância para o estudo do gênero em questão. Pretendemos, assim, sugerir uma forma de como esses textos, ainda à margem das escolhas canônicas dos professores, podem ser explorados, de modo a enriquecer e contribuir com o ensino de leitura na Educação Básica e para a formação de leitores mais críticos e cidadãos mais competentes linguisticamente.

Palavras-chave: memes; semiótica; argumentação.

Análise semiótica da argumentação em postagens de mulheres empreendedoras no Instagram

Autora: Karine da Silva Costa André
Orientadora: Regina Souza Gomes
Área de concentração: Língua Portuguesa

Considerando o contexto social instalado pela pandemia causada pela Covid-19, entre os anos 2019 e 2023, as autoridades governamentais no Brasil e no mundo tiveram que implementar a política de isolamento social, decretando o fim das atividades presenciais. Com isso, o Instagram se mostrou não apenas um forte aliado para o estabelecimento de vínculos, mas uma plataforma propícia para o empreendedorismo, possibilitando gerar renda nesse período de restrições. Dito isso, faz-se necessário investigar as interações entre os sujeitos no Instagram, intensificadas por tal cenário. Sendo assim, o objetivo desta comunicação, baseada em pesquisa desenvolvida no Mestrado em Língua Portuguesa, é analisar, sob a perspectiva da Semiótica Discursiva, os recursos argumentativos mobilizados por mulheres empreendedoras, mais especificamente criadoras de conteúdo, em postagens (textos verbo-visuais estáticos) no Instagram, cujo intuito é convencer o enunciatário a crer no que é dito, assumindo-o como verdadeiro. Para tanto, os objetivos da apresentação são: i) caracterizar o objeto (postagem no Instagram de mulheres empreendedoras); ii) identificar e analisar os principais recursos argumentativos empregados nas postagens e nas páginas do corpus; e iii) examinar a interação estabelecida entre enunciador e enunciatário. Entre os procedimentos encontrados, selecionamos o uso de debreagem enunciativa para criar efeito de familiaridade, perguntas retóricas para simular a interação e sincretismo de linguagens para essa comunicação.
Palavras-chave: Semiótica Discursiva; argumentação; postagens no Instagram.

Aspectualização temporal: estudo comparativo das ações vacinais contra Covid-19 divulgadas em notícias

Autora: Luciana Abrahão Passos Faht
Orientadora: Regina Gomes
Área de concentração: Língua Portuguesa

Neste estudo, busca-se, com base nos aportes teóricos da Semiótica de linha francesa, perscrutar a aspectualização temporal em notícias que versam sobre a vacinação contra Covid-19. Para tanto, foram selecionadas trinta e quatro notícias do jornal online Extra e do site Gov.br no período de janeiro de 2021 a dezembro de 2022. Tenciona-se, dessa forma, observar os mecanismos aspectuais mais recorrentes a fim de comparar como cada veículo concebe as ações ligadas às vacinas, se rápidas, lentas, estendidas, abruptas, o que, como a própria abordagem semiótica entende, arrola o aspecto no campo perceptual e, consequentemente, subjetivo. Efetua-se também a análise da figura do observador, com base nos temas e figuras, para que se identifiquem os atores responsáveis pelo guiar da narrativa, o que também ajuda a prever o perfil de cada um desses veículos informacionais a partir do actante cuja perspectiva acerca dos eventos é acolhida – ou silenciada. Além disso, recorreu-se, para uma análise mais completa,  a contribuições da Semiótica Tensiva (ZILBERBERG, 2011), as quais tornam exequíveis o exame dos afetos de modo que o tempo é fruto do estado de alma, da percepção do sujeito, que ora concebe os fatos como acelerados, ora como desacelerados – o que resulta na durabilidade temporal breve ou longa, isto é, num tempo aspectualizado capaz também de mexer com as emoções do enunciatário ou de lhe trazer conforto por meio de conteúdos mais afeitos à inteligibilidade. Com isso, esta reflexão visa não só a confirmar a dimensão argumentativa e afetiva presente no fenômeno da aspectualização, visto que as divergências aspectuais em cada notícia corrobora para positivação ou negativação, por exemplo, da imagem governamental, o que depende da ideologia e do projeto comunicativo de cada enunciador, como também a mapear o comportamento das notícias oficiais (Gov.br) comparadas às da grande imprensa popular (Extra).

Palavras-chave: Semiótica; aspectualização temporal; notícias.

A Veridicção nas Análises de Fake News das Agências de Verificação Fato ou Fake e Boatos.org

Autora: Sarah de Araujo Alves
Orientadora: Regina Souza Gomes
Área de Concentração: Língua Portuguesa

Greimas (2014) afirma que o discurso é um lugar frágil, em que se inscrevem e em que se leem a verdade e a falsidade, a mentira e o segredo. Diante disso, este estudo tem como objetivo analisar, qualitativamente, a partir da perspectiva teórico-metodológica da semiótica de linha francesa, como as agências de verificação Fato ou Fake e Boatos.org constroem e julgam a verdade nas suas análises. Para isso, foram coletadas vinte notícias, de forma aleatória, da agência de verificação Fato ou Fake, e vinte notícias da Boatos.org entre o período de fevereiro a março de 2023. A relevância desse estudo se dá pela contribuição da semiótica na compreensão de mecanismos que atuam na produção e recepção desses textos. Segundo Greimas (2014), há uma relação fundamental entre enunciador e enunciatário na construção dos discursos e um contrato de veridicção entre esses actantes. Logo, quando o enunciador apresenta um valor, o enunciatário examina se é um valor aceitável, sendo este seu primeiro julgamento. Caso esse não seja reconhecido pelo enunciatário como compatível ao seu universo cognitivo, ele não aceita essa manipulação. Nossa atenção se voltará ao contrato de veridicção empregado pelo enunciador e os efeitos discursivos produzidos para conquistar a adesão do enunciatário, envolvendo-o na crença do falso dizer. Até o presente momento da pesquisa, os resultados da análise mostram que, no período selecionado para constituir o corpus, as análises concretizadas através das modalidades veridictórias interferem na construção da perspectiva discursiva construída nos textos veiculados pelas agências de verificação.

Palavras-chave: semiótica; fake news; veridicção.

Discursos Intolerantes: uma análise semiótica de comentários RedPill no Instagram

Autora: Daniele Nascimento Monteiro de Souza
Orientadora: Regina Souza Gomes
Área de concentração: Língua Portuguesa

O discurso RedPill surge com base em um movimento ativista do direito dos homens. A nomenclatura criou-se a partir de uma cena específica do filme Matrix (1999), em que o protagonista deveria escolher entre tomar uma pílula azul, para permanecer em um estado de fantasia, ou ingerir a pílula vermelha, para “despertar” da simulação Matrix e enxergar a verdade. Assim, ergueu-se a metáfora RedPill, com a finalidade de aplicar princípios ideológicos na vida amorosa masculina e, ao mesmo tempo, gerar um aperfeiçoamento pessoal nos homens. De certa forma, aproxima-se de um ideal de autoajuda, porém, com um propósito específico: distanciar qualquer influência feminina, pois esta é entendida como nociva. A ideologia mencionada enxerga a internet, em específico as redes sociais, como terreno fértil para a fidelização de “seguidores” e para a ampliação do movimento, gerando discursos intolerantes contra mulheres e a propagação destes no meio digital, principalmente por meio de um espaço, que o Instagram e outras plataformas disponibilizam, dedicado aos comentários. De acordo com Diana Barros (2005), no campo da organização narrativa, um discurso intolerante é aquele que sanciona os sujeitos considerados maus cumpridores de certos contratos sociais e, por esse motivo, devem ser punidos (com a perda de direitos e, até mesmo, a morte). Por isso, este trabalho busca analisar os mecanismos discursivos ideológicos de textos intolerantes, especificamente os sexistas em comentários de postagens na rede Instagram, de acordo com a teoria semiótica de base greimasiana. Os apontamentos de Fiorin (1996; 2016), Gomes (2020), Barros (2005; 2014), entre outros, contribuirão para a produção de saberes acerca de discursos intolerantes, a fim de combatê-los em prol de uma sociedade mais tolerante. E, para esta comunicação, analisaremos três postagens e seus respectivos comentários que abordam discursos intolerantes de cunho RedPill.

Palavras-chave: discurso; intolerância; RedPill.

MESA ONLINE – LÍNGUA PORTUGUESA – 14h-16h

Debatedor 1: Prof. Dr. Rubens Lacerda Loiola (Universidade Estadual do Piauí)
Debatedor 2: Prof. Dr. Gean Nunes Damulakis (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Coordenador: Prof. Dr. Gean Nunes Damulakis (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Formas de expressão de futuridade em três variedades africanas do Português

Autor: Deijair Ferreira da Silva
Orientadora: Silvia Figueiredo Brandão
Coorientadora: Márcia dos Santos Machado Vieira
Área de concentração: Língua Portuguesa

Nesta pesquisa, focalizam-se construções de futuridade nas modalidades faladas do Português de São Tomé (PST), de Angola (PA) e de Moçambique (PM). O estudo se desenvolve em duas partes. Na primeira, realizada com apoio em 721 dados, busca-se determinar, com base na Sociolinguística Variacionista, em cada variedade e no seu conjunto, os fatores estruturais e extralinguísticos que atuam para a implementação do futuro perifrástico-FP (amanhã vou viajar para Cachoeira) em contraposição ao futuro morfológico-FM (amanhã viajarei para Cachoeira) e ao presente do indicativo (amanhã viajo para Cachoeira), as formas mais usuais de indicar futuridade. Para tanto, consideraram-se 11 varáveis estruturais e de 3 a 7 de cunho extralinguístico, a depender da variedade. A segunda parte foi desenvolvida no âmbito da Gramática de Construções Baseadas no Uso-GCBU, que, em linhas gerais, concebe o conhecimento linguístico como uma rede mental de construções interconectadas. Esta seção – que engloba construções como hei de viajar, tenho que viajar, poderia viajar – constituiu uma rede, projetando representações esquemáticas abstracionais, acionadas pelas 1.721 construções de futuridade presentes nos corpora, em formato de predicadores verbais de futuridade simples e complexos. Os resultados concernentes à primeira etapa sugerem que são fatores estruturais os que mais propiciam a implementação do FP, em especial os vinculados ao tipo semântico do verbo principal, variável selecionada como a mais saliente nas rodadas geral e específicas. No que tange à segunda etapa, com base nos parâmetros construcionais e níveis de esquematicidade, puderam-se projetar, esquematicamente: (a) 69 padrões verbais do tipo [Vsimples], habilitados por 372 usos; (b) 20 padrões do tipo [V(semi)auxiliar + forma nominal], acionados por 1.266 usos e (c) 7 do tipo [V(semi)auxiliar + Vinfinitivo + forma nominal], habilitados por 83 usos.

Palavras-chave: Construções de futuridade; Sociolinguística Variacionista; Socioconstrucionismo.

Concordância de número em predicativos e particípios na fala da região metropolitana do Rio de Janeiro

Autora: Letícia Alves Moreira
Orientadora: Silvia Figueiredo Brandão
Área de concentração: Língua Portuguesa

Neste trabalho, faz-se um relato dos resultados preliminares da pesquisa de mestrado sobre concordância de número em estruturas predicativas e passivas na fala de duas localidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro: Copacabana e Nova Iguaçu. No estudo, que vem sendo realizado com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972, 2003), parte-se da hipótese de que, nessas áreas, predomina a marcação de plural, a depender de fatores estruturais e, sobretudo, da atuação do variável nível de escolaridade. Para testar tal hipótese, consideraram-se nove variáveis estruturais como no estudo pioneiro de Scherre (1991) e três extralinguísticas: sexo, faixa etária (18-35, 36-55, 56-75 anos) e nível de escolaridade (fundamental, médio e superior). Os dados de Copacabana foram coletados do Corpus do Projeto “Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias do Português” (acessível em https://corporaport.letras.ufrj.br/). Quanto à Nova Iguaçu, as amostras foram coletadas não só do referido Corpus, organizado em 2009, mas, ainda, do Corpus Vianna, da UFRRJ, formado em 2014 e não disponível on-line. Para a análise, realizada com o auxílio do Programa GOLDVARB-X, levaram-se em conta 54 informantes, o que redundou em apenas 529 ocorrências, tendo em vista que a variável em estudo é pouco produtiva em entrevistas de perfil sociolinguístico. No cômputo geral, observou-se que a concordância nas estruturas predicativas/passivas constitui uma regra variável, incidindo em 85% dos dados.

Palavras-chave: Concordância de número; predicativo; particípio; variação.